Recentemente, encontrei o seguinte tweet do escritor Teju Cole: Preso por roubo em Mecca, o imigrante nigeriano Ibrahim está aprendendo a usar sua mão esquerda (tradução minha).
Sabe por que achei essa pequena história genial? Porque ela tem os três elementos que venho tentando aplicar à minha escrita.
Em primeiro lugar, a história tem elementos concretos: um lugar definido (Mecca), um personagem claro (o imigrante nigeriano Ibrahim), uma ação (roubo), conflito (preso por roubo) etc. Cada um desses elementos é claro e não abre muito espaço para dúvidas.
Se estivesse escrito preso em Mecca, nós já teríamos uma relação diferente com o texto. Saber o motivo pelo qual o personagem foi preso nos ajuda a criar a conclusão que vem depois.
Na minha tradução, a história tem 16 palavras (no original, são 17). Ainda assim, ela tem todos os elementos necessários para uma boa história: personagem, objetivo, conflito, transformação, curiosidade, emoção, tema. E tudo isso em 16-17 palavras.
Ou seja, é uma história simples. Não precisamos saber que o imigrante tem 33 anos, nem que ele roubou uma galinha ou que foi encontrado e preso quando estava na casa da sogra. Tudo isso, para a história que foi contada, seria superficial, apenas penduricalhos em torno do núcleo, da parte mais importante.
Para completar, a história também é sutil. Teju Cole não diz que o imigrante teve a mão direita cortada e agora está aprendendo a usar a mão esquerda. Ao não informar o corte da mão, ele abre um espaço que será ocupado por um salto cognitivo por parte do leitor. Para compreender essa passagem, o leitor deve possuir um repertório mínimo que inclua a punição muçulmana exercida sobre quem é pego roubando.
Criar uma história concreta, simples e sutil é difícil.
Contudo, pensar nestes termos me ajuda a perceber quando meu texto está fraco. Às vezes, sou abstrato demais, sem ancorar a história em algo que os leitores possam construir mentalmente. Em outros momentos, entupo a escrita de detalhes e acontecimentos desnecessários, que só servem para atravancar a leitura ou torná-la mais extensa (o que, acredito, não é uma vantagem). Por fim, me vejo ensinando os leitores, mais do que deixando que eles participem da história que estou relatando.
Sem sutileza, simplicidade e concretude, não damos espaço para o leitor entrar na história que estamos contando.
E, penso, não há nada pior do que acompanhar uma história para a qual não fomos convidados.