Recentemente, recebi uma mensagem na página do Ninho de Escritores no Facebook e ela dizia o seguinte:
Está na cara que a ideia aqui é convencer pessoas sem nenhum talento de que elas são capazes de criar textos “líveis” (e não “legíveis”) se dedicarem algum tempo (e algum dinheiro, logicamente) a esse tal Ninho.
É muito amor, né?
Decidi não responder ao sujeito porque acho que ele está além de qualquer possibilidade de mudar de ideia e porque não quero pessoas cheias de ódio perto do meu projeto (nessas horas eu sou bem pouco acolhedor, confesso). Mas a mensagem dele toca num ponto importante para todos nós que escrevemos: o tal do talento.
Talento. O que é isso? Nosso comentarista online falou em pessoas sem nenhum talento, o que tem a ver com uma visão bem arcaica sobre pessoas que nascem geniais e com habilidades mágicas para a criação artística. Eu achava que já havíamos superado esse tipo de ideia, mas parece que não.
Existem pessoas com maior facilidade para a criação literária? Sim, eu não tenho a menor dúvida disso. Só essas pessoas é que podem escrever? Não! Todo mundo pode escrever. É o empenho e o treinamento que farão a diferença entre alguém que escreve bons textos e alguém que não o faz. É o mesmo que acontece com esportes, idiomas e outras artes: a facilidade inicial não determina o limite da habilidade que pode ser alcançada.
O talento é, na verdade, o resultado de muito trabalho. Não existe escritor que não tenha se esforçado para criar bons textos. Tem até uma historinha sobre o cara que conversa com um pianista e diz “Nossa, eu daria minha vida para tocar como você”, ao que o pianista responde “Eu dei”.
Escrever é algo que, se dedicarmos algum tempo, todos podemos aprender. Não estou dizendo que é fácil, mas sim que é possível. Leva tempo e exige empenho como qualquer coisa na vida.
É preciso tomar muito cuidado com esse discurso mítico do talento. “Só alguns escolhidos é que podem escrever”. Isso é uma bobagem elitista cuja única função é continuar separando quem pode de quem não pode. E está mais do que na hora de pararmos com isso.
Bem, era isso que eu tinha para comentar hoje. Peço desculpas se eu tiver sido mais agressivo do que costumo, mas comentários recheados de ódio tendem a me afetar bastante, e o meu jeito de lidar com isso é por meio da escrita. Uma escritora que tratou desse assunto com lindeza é a Aline Valek, no texto Não acredito em talento.
[…] A ideia de que uma pessoa pode ser um gênio criativo tem muito a ver com a noção de talento, que apresentei em outro texto. […]