Foi na escola que comecei a escrever. Ou, pelo menos, que comecei a perceber que poderia escrever. Mas comecei por conta própria, como um caminho alternativo para me relacionar com o mundo dito real.
Escrevi um romance quando tinha quinze anos. Um dia, me enchi de confiança e pedi a uma professora de Língua Portuguesa que o lesse e comentasse. Eu precisava saber se podia ser um escritor e ninguém melhor que ela para me dar essa permissão.
Ela aceitou, e imagino que tenha se arrependido disso no minuto seguinte, porque tornei-me pulga e todo dia dali em diante eu estava lá, pinicando:
– Já conseguiu ler? – eu perguntava ao final de cada aula.
– Ainda não – ela respondia, com paciência e um sorriso de quem reconhece estar com um futuro dependendo de sua resposta.
Mal sabia eu que ela tinha uma vida para além da sala de aula e que essa vida poderia ser mais importante do que ler o romance de um dos seus quinhentos alunos.
– Já conseguiu ler? – eu a atacava no corredor da escola nos dias sem Língua Portuguesa.
– Ainda não – era a resposta que vinha.
Todos os dias eram iguais. Eu já começava a achar que nunca ganharia uma resposta, especialmente com o final do ano chegando.
Até que foi diferente:
– Sim, falo contigo no final da aula.
Língua Portuguesa, último período do dia, fórmula pronta para a ansiedade.
Esperei, suei, sofri.
Bateu o sinal e voei para a mesa da professora. Ela me devolveu tudo revisado e comentado, páginas e páginas com correções e rabiscos em todas as linhas.
Perguntei o que ela achou.
– Tu tem um estilo machadiano.
Ela disse outras coisas, mas essa é a única que eu lembro. Eu estava derretido demais para prestar atenção no que quer que fosse.
Hoje, quase quinze anos depois, reconheço nesta professora o início do Ninho de Escritores. Imagino que ela ainda não saiba a importância que teve para mim naquele momento. Ou na vida inteira.
O que eu precisava não era um elogio, mesmo que o ego agradeça profusamente.
O que eu precisava não era (apenas) regras gramaticais, sintaxe, concordância.
O que eu precisava, e ganhei, foi reconhecimento. Naqueles dias de escola, minha professora me reconheceu como alguém que poderia ser escritor. Ela dedicou tempo para mim, me tornou real.
Sem dizer exatamente essas palavras, o que a professora me disse foi:
– Eu acredito em ti.
Essa conversa, que durou menos de cinco minutos, até hoje é um dos momentos mais importantes da minha vida.
O romance continua guardado na gaveta e todo rabiscado.
Mas eu, não. Eu estou fora da gaveta e trabalhando para tirar outros escritores de suas própria gavetas, porque acredito que todo mundo pode escrever.
Conhece um escritor?
Faça um favor ao mundo e acredite nele. A pior coisa que pode acontecer é tu deixar uma pessoa feliz, mesmo que não goste de ler nada do que ela escreve.
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Essa história já dava um livro!
Parabéns!
Obrigado, Marina
Talvez eu o escreva!