Blog : Ninho de Escritores

Leitura crítica #6

Na newsletter do dia 12 de outubro, mandei um desafio para meus leitores: escrever um parágrafo de até 60 palavras que mostrasse o momento em que uma pessoa se apaixona pela outra.

A Ryana Gonçalves me enviou este parágrafo:

Eu conheci ela em um restaurante em Charqueadas, cidade natal dela. Eu era caminhoneiro, aprendi a dirigir cedo nos caminhões do meu pai para trabalhar com ele para ajudar a sustentar a família. Em uma dessas viagens, fui a um restaurante e ela me atendeu – e me atendeu muito bem. Eu comecei a frequentar o restaurante por causa dela, comecei a conversar mais com ela – e ela percebeu e correspondeu (risos). Descobri que ela além de ser garçonete, também era cozinheira do restaurante…

Neste parágrafo, encontramos algumas repetições que se tornam um pouco deselegantes. Eu, ela, dela, ele, estes pronomes pululam pelo texto e acabam chamando muita atenção. Como mencionei em outra leitura crítica, não haveria problema em repetir palavras se fossem as mais apropriadas para a ocasião.

Nosso primeiro cuidado com o parágrafo será com os pronomes.

Começamos substituindo “Eu conheci ela” por “Eu a conheci”. A seguir, “cidade natal dela” pode virar “sua cidade natal”. Diferente do que aconteceu quando mencionei a traição dos pronomes, aqui o pronome “sua” não é um problema, pois temos apenas “eu” e “ela” na frase – ou seja, “sua” só pode pertencer a ela.

O objetivo é limpar o parágrafo de pronomes desnecessários. Um bom caminho é dar à personagem um nome. “Conheci Maria em um restaurante… Ela… Maria…”. Quanto mais detalhes temos sobre um personagem, mais espaço encontramos para que as palavras trabalhem ao nosso favor.

A manipulação do tempo cronológico também merece destaque. O parágrafo começa mencionando que o narrador a conheceu em um restaurante, depois volta ao passado, quando aprendeu o ofício de caminhoneiro com o pai, e então avança para o restaurante e como conheceu Maria. Como narradores de nossas histórias, temos poder ilimitado para manipular o espaço e o tempo, mas sempre com um porém: o conforto do leitor é nossa maior obrigação.

Leitores felizes são leitores que conseguem acompanhar tudo o que é contado sem se perderem.

Então que tal organizarmos a narrativa de forma cronológica? O personagem pode começar o parágrafo contando sobre como virou caminhoneiro, coisa de uma frase rápida, e depois mencionar que, passando por Charqueadas, conheceu uma garçonete. Ela o atendeu tão bem que, na próxima vez que passou pela cidade, ele foi de novo comer lá. Ela se chamava Maria, e além de garçonete, também era cozinheira. Ah, como ela o atendia bem!

Que tal?

:)

Espero que estas sugestões que ofereci ao texto da Ryana possam te ajudar na escrita das tuas próprias histórias. Os comentários feitos neste texto não têm a intenção de serem exaustivos, mas sim de destacar algumas das questões que podem ser melhoradas.

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