Blog : Ninho de Escritores

Leitura crítica #5

Na newsletter do dia 12 de outubro, mandei um desafio para meus leitores: escrever um parágrafo de até 60 palavras que mostrasse o momento em que uma pessoa se apaixona pela outra.

Anna Oliveira me enviou o seguinte parágrafo:

E eu descobri o motivo de tudo. Primeiro, senti um choque. Literalmente. Bati o cotovelo na cadeira quando meu cérebro conectou as informações enviadas pelo coração. Aquele choque dolorido veio por dois motivos: (a) consequência da falta de atenção com a cadeira e (b) a queda da ficha. Depois, o desespero me dominou. Eu. Estou. Apaixonada. Por meu enteado!

Junto à mensagem, Anna sugeriu estar com “medinho”. Achei fofo e super pertinente. A qualidade do nosso trabalho não importa: sempre que nos colocamos à prova de outra pessoa, bate um medinho. O que fazemos com ele é o que realmente interessa, e fico feliz que tanta gente esteja enviando seus parágrafos para serem comentados.

Um elemento que foi bem utilizado neste parágrafo é o controle do tempo. Mencionei, em outra leitura crítica, como o tamanho das frases influencia a percepção do tempo. No caso, estávamos falando de frases longas. Aqui temos o exemplo de frases curtas.

“Primeiro, senti um choque. Literalmente. Bati…”

Essa pausa para o “literalmente” me fez ouvir a voz da narradora, como se a história não estivesse escrita e sim sendo narrada em voz alta. É uma contadora de histórias que precisou interromper a fala para me advertir de que o choque havia sido real, de fato, no cotovelo.

Essa quebra também tem um efeito de humor. Vale lembrar que o humor costuma surgir de leituras inesperadas para situações cotidianas. O choque não foi apenas de descobrir o “motivo de tudo”, foi também real, tzzz.

Normalmente, eu criticaria “o motivo de tudo”. Tudo o quê? Mas neste parágrafo, gostei, porque me levou a continuar lendo e querendo saber o que era esse tudo, por que ela se assustou e bateu o cotovelo. Dependendo do que revelasse na primeira frase, poderia perder o efeito que produziu com a revelação do parágrafo.

Falando nela, o ritmo da leitura do final do parágrafo me soou excessivamente truncado. Eu. Acho. Melhor… Usar apenas duas frases: “Eu estou apaixonada… Pelo meu enteado”. Importante destacar: esta é a minha leitura, a decisão está na mão da escritora, que sabe o efeito que deseja criar com suas palavras.

Um último ponto que merece atenção é “a queda da ficha”. Eu tenho resistência a metáforas que já se tornaram clichês, pois elas já não cumprem a função de nos levar a perceber as coisas de outra forma. Expressões que viraram lugar comum, tais como “a casa caiu” e “partiu seu coração”, podem ser substituídas por expressões mais originais ou mesmo mais descritivas.

:)

Espero que os comentários que ofereci ao texto da Anna possam te ajudar na escrita das tuas próprias histórias. Eles não têm a intenção de serem exaustivos, mas sim de destacar algumas das questões que podem ser melhoradas.

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3 respostas para “Leitura crítica #5”

  1. Anna Oliveira disse:

    Oi, Tales! :D

    Amei as críticas feitas. São muito válidas. Confesso que estava na dúvida quanto ao “Eu. Estou. Apaixonada.” vs. “Eu estou apaixonada”. A Meg Cabot foi uma das primeiras autoras que li e chick lit é praticamente a base do meu eu leitor. Devo ter herdado esses pontos pausados dai. :P hehe.
    Fiquei muito feliz com esta análise. Muito, muito, muito feliz. hihi. Obrigada. <3 Tanto pelos elogios quanto pelas críticas. Com certeza, irei considerá-las e estar mais atenta para melhorar nessas questões (pontos pausados e metáforas).

    Aproveito para deixar um parabéns pelo seu trabalho com o Ninho. :)

    Abraços!

  2. […] pensar um pouco sobre o que escrevemos e o que deixamos de escrever. A Anna fez um belo exercício num desafio anterior, portanto minha crítica a este texto dará destaque a perguntas para o texto, mais do que sobre […]

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