Blog : Ninho de Escritores

O escritor é um arqueiro e o texto é sua flecha

Escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida com a prática.

Sempre que falo sobre treinar a escrita, alguém me diz: “ah, mas eu gosto de escrever direto da alma”. Alguns escritores fazem parecer que é assim que a literatura acontece: por inspiração da musa. Tudo bem, isso é possível, bacana e muitas vezes intenso.

Mas eu, pessoalmente, acho essa ideia um desserviço para quem deseja aprender a escrever, porque dá a entender que qualquer coisa vale.

Aqui, uma ressalva: se o teu interesse é escrever o que vem do coração sem passar pela cabeça, está tudo bem. De verdade.

Mas, e esse é um mas bem importante, o foco do Ninho de Escritores é ajudar aqueles que escrevem com uma intenção clara.

Sabe por quê?

Porque, como escritores, é impossível avaliarmos a qualidade de um texto sem sabermos qual é a sua intenção.

O escritor como um arqueiro

Nos cursos do Ninho de Escritores, utilizo a seguinte metáfora para explicar a importância de escrever com intenção: o escritor é um arqueiro.

Se um arqueiro quiser puxar a corda do arco e disparar uma flecha sem nem olhar o alvo, tudo bem. Uma flecha será disparada. Ela poderá cair no meio do caminho, voar para longe, atingir algo inesperado e até mesmo acertar no ponto central do alvo.

Um texto escrito na vazão das emoções pode ficar curto demais para transmitir uma ideia ou emoção, desnecessariamente extenso, surpreendentemente bom e até mesmo arrebatador.

Em ambos os casos, a probabilidade é de que flecha e texto sejam apenas jogados no mundo.

Quando um arqueiro mira seu alvo e dispara, ele pode acertar ou não. Caso tenha errado, ele busca a flecha, volta à posição e dispara de novo. E de novo. E de novo.

Quando um escritor tem uma ideia que deseja passar ou um sentimento que pretende evocar, é possível avaliar se o texto que criou alcança ou não o objetivo. Caso não tenha alcançado, o texto será revisado. E revisado. E revisado.

 

O legal da técnica, tanto para o arqueiro quanto para o escritor, é que ela vai “entrando” na gente. Aos poucos, o que aprendemos e praticamos hoje vai se tornando mais natural.

Quem dirige, sabe: no primeiro dia da autoescola, estamos tentando coordenar cabeça, braços e pernas. Meses depois, sequer percebemos a orquestra realizada por nosso corpo.

Acontece algo parecido com o texto: os erros básicos vão desaparecendo e as verdadeiras complexidades da linguagem e da história começam a ficar mais visíveis.

Quer um exemplo disso? Vasculha a tua gaveta de textos antigos e lê algo que escreveu há pelo menos dois anos. Provavelmente, a tua reação será uma variante de “nossa, eu escreveria tão diferente hoje!”. Isso acontece porque nossa técnica evoluiu.

Por isso é importante treinarmos: não para sermos os melhores do mundo, mas para sermos melhores do que éramos ontem.

 

Quer ajudar o Ninho de Escritores a continuar ajudando futuros arqueiros? Compartilha este texto com os amigos e considera patrocinar o Ninho com qualquer valor a partir de R$ 11 por mês (saiba como clicando aqui). Obrigado!



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