Haruki Murakami diz que para sermos escritores, precisamos de talento, concentração e dedicação. Embora tenha minhas resistências quanto à ideia de talento, acho que ele está muito certo sobre concentração e dedicação.
Nós, que queremos ser artistas, em geral somos mimados. Desejamos que a arte venha fácil, que saia direto da parte mais intensa da alma, que se produza com lindeza e elegância.
Desculpa, mas para a maior parte das pessoas, a vida não é assim. Inclusive para quem é artista, o tipo de pessoa que costuma ocupar seu tempo produzindo em vez de reclamando que queria produzir.
Atualmente, não falo mais em voz alta que tenho uma ideia para uma história. Ideia é merda, adubo, todo mundo põe pra fora o tempo inteiro, mas transformar em algo valioso dá um pouco mais de trabalho. Esse trabalho só se resolve com dedicação.
Dedicar-se não é, necessariamente, escrever oito horas por dia. Às vezes não temos mais do que onze minutos, e mesmo assim podemos criar, ainda que pouquinho.
Dedicação é comparecer à mesa de trabalho, abrir o caderno, começar a escrever. Mesmo que fique ruim, mesmo que não saia nada com nada. Melhor se sair algo com algo, mas temos o direito de falhar. E falhar é OK se nos ensinar a falhar melhor no dia seguinte.
Dedicação é aquela virtude que nos coloca para trabalhar dia sim e dia também. Se escrever é um objetivo, todo e qualquer obstáculo deve ser visto como uma desculpa para evitar a criação. Essas desculpas devem sumir.
Do contrário, o que sumirá será a nossa criação.
E, bem, o que dizer? Será por pura falta de dedicação.
Outra coisa que acho bobagem é a tal da senhora inspiração. Com trabalho e técnica ela é dispensável.